Resumo
. ;:347-355
Revisar a literatura e sintetizar evidências sobre interações fisiopatológicas atribuídas à ocorrência simultânea de COVID-19 e pré-eclâmpsia.
Uma revisão sistemática foi conduzida entre novembro (2021) a janeiro (2022) para recuperar estudos observacionais publicados no PubMed, LILACS, SciELO Brasil e Google scholar. A busca foi baseada nos descritores [(eclâmpsia OR pré-eclâmpsia) AND (COVID-19)]. Estudos quantitativos que apontaram interações fisiopatológicas foram incluídos. Estudos de revisão, com participante HIV e apenas com enfoque clínico foram excluídos. A seleção dos estudos foi padronizada com avaliação por duplas de pesquisadores.
Nesta revisão, 155 publicações foram recuperadas; 16 preencheram os critérios de inclusão. Em síntese, a expressão fisiológica de receptores da enzima conversora da angiotensina-2 (ECA-2) é fisiologicamente potencializada em gestantes, especialmente no sítio placentário. Os estudos sugerem que o coronavírus se liga à ECA-2 para entrar na célula humana, ocasionando desregulação do sistema renina-angiotensina-aldosterona e da razão entre angiotensina-II e angiotensina-1-7, induzindo manifestações sugestivas de pré-eclâmpsia. Ademais, a tempestade de citocinas conduz à disfunção endotelial, vasculopatia e formação de trombos, também presentes na pré-eclâmpsia.
Os estudos recuperados nesta revisão sugerem que a superposição de alterações fisiopatológicas entre a COVID-19 e a pré-eclâmpsia envolve, principalmente, a ECA-2 e disfunção endotelial. Tendo em vista que a pré-eclâmpsia cursa com alterações clínicas e laboratoriais progressivas, a atenção pré-natal de qualidade pode ser capaz de detectar parâmetros clínicos e laboratoriais importantes para diferenciar a pré-eclâmpsia verdadeira sobreposta por COVID-19, bem como os casos que mimetizam a doença hipertensiva consequente à infecção viral.
Resumo
. ;:1126-1133
A presente revisão busca sintetizar as evidências em relação à exposição ao mercúrio (Hg) e os distúrbios hipertensivos da gestação (DHG).
Os bancos de dados PubMed, BVS/LILACS, SciELO e a Biblioteca Digital da UFRJ Pantheon foram sistematicamente pesquisadas durante junho de 2021.
Artigos observacionais analíticos, escritos em inglês, espanhol ou português, sem restrição temporal.
A estratégia PICOS foi seguida e a qualidade metodológica foi avaliada usando o checklist Downs and Black.
Foram encontrados 77 artigos, dos quais 6 atenderam aos critérios da revisão. Foram 4.848 participantes, dos quais 80 (16,7%) tinham DHG e 4.724 (97,4%) estavam expostos ambientalmente ao Hg (consumo de peixe e amálgama dental). Os biomarcadores de mercúrio avaliados foram sangue (quatro estudos) e urina (dois estudos). Dois estudos encontraram associação positiva entre Hg e DHG no grupo com maior exposição e os outros quatro não a apresentaram. A avaliação de qualidade metodológica revelou 3 estudos satisfatórios e 3 bons (média: 19,3 ± 1,6 em 28 pontos). A ausência ou não de ajuste adequado para fator de confusão negativo, como consumo de pescado, foi observada em cinco estudos.
Recuperamos apenas seis estudos, embora o Hg seja um metal tóxico generalizado e a gravidez seja um período de maior suscetibilidade a ameaças ambientais e risco cardiovascular. No geral, nossa revisão mostrou resultados mistos, com dois estudos relatando associação positiva no grupo com maior exposição. No entanto, devido à importância do assunto, estudos adicionais são necessários para elucidar os efeitos do Hg sobre DHG, com atenção especial ao ajuste de confundimento negativo.
Resumo
. ;:878-883
um desafio considerar o diagnóstico e o tratamento da pré-eclâmpsia (PE) em locais de baixa e média renda, onde a doença representa um grande problema de saúde pública. A placenta é a causa subjacente da doença, e as concentrações plasmáticas de fatores pró-angiogênicos e antiangiogênicos liberados pela placenta podem refletir os riscos de progressão da doença. Proteínas antiangiogênicas, como a tirosina quinase fms solúvel tipo 1 (sFlt-1), e pró-angiogênicas, como o fator de crescimento placentário (PlGF), estão direta e inversamente correlacionados com o início da doença, respectivamente.
Revisão narrativa sobre o uso de biomarcadores (razão sFlt-1/PlGF) com sugestão de protocolo de orientação para uso clínico.
Principais considerações sobre o uso de biomarcadores: a razão sFlt-1/PlGF é principalmente relevante para descartar PE entre 20 e 36 6/7 semanas em casos de suspeita de PE; entretanto, não deve substituir os exames de rotina para o diagnóstico de PE. A relação sFlt-1/PlGF não deve ser realizada após a confirmação do diagnóstico de PE (apenas em ambientes de pesquisa). Em mulheres com suspeita de PE, a razão sFlt-1/PlGF < 38 pode descartar o diagnóstico de PE por 1 semana (VPN = 99,3) e até 4 semanas (VPN = 94,3); A relação sFlt-1/PlGF > 38 pode auxiliar no manejo clínico. Em casos de hipertensão grave e/ou sintomas (eclâmpsia iminente), a hospitalização é imprescindível, independentemente do resultado da relação sFlt-1/PlGF.
O uso de biomarcadores pode auxiliar na tomada de decisões clínicas no manejo de casos suspeitos de PE, principalmente para afastar o diagnóstico da doença, evitando intervenções desnecessárias, tais como internações e prematuridade iatrogênica.
Resumo
. ;:125-132
Investigar a expressão da endotelina-1 (ET-1) e da óxido nítrico sintase endotelial (endothelial nitric oxide synthase, eNOS, em inglês) em placentas normais e com pré-eclâmpsia (PE).
Este estudo transversal e analítico foi realizado em primigestas normais e com PE (n=10 em cada grupo) internadas no Hospital Geral e das Clínicas de North Okkalapa entre fevereiro de 2019 e fevereiro de 2020. Amostras de soro foram coletadas imediatamente antes do parto, e os tecidos placentários foram coletados imediatamente após cesariana de emergência ou eletiva. A expressão da eNOS da placenta foi medida por western blot, e os níveis de ET-1 nos homogenatos de tecidos placentários ET-1 e no soro foram medidos por ensaio de imunoabsorção enzimática.
O grupo comPE apresentou níveis séricos de ET-1 significativamentemais altos (mediana: 116,56 pg/mL; IIQ: 89,14-159,62 pg/mL) do que o grupo normal (mediana: 60,02 pg/mL; IIQ: 50,89-94,37 pg/mL) (p<0,05). No entanto, não foi observada diferença significativa no nível ET-1 dos homogenatos de tecidos placentários entre placentas normais e com PE (mediana: 0,007 pg/μg de proteína total; IIQ: 0,002-0,0123 pg/μg de proteína total; e mediana: 0,005 pg/μg de proteína total; IIQ: 0,003-0,016 pg/μg de proteína total, respectivamente). Os valores da mediana e do IIQ da expressão relativa da eNOS placentária foram significativamente maiores no grupo com PE do que no grupo normal (p<0,05). O nível sérico de ET-1 não estava significativamente correlacionado com a expressão placentária de ET-1, e tampouco houve correlação significativa entre as expressões placentária de ET-1 e de eNOS em nenhum dos grupos.
Os níveis séricos de ET-1 foram significativamente maiores em gestantes com PE em comparação com gestantes normais, ao passo que os níveis de ET-1 dos homogenatos de tecidos placentários não foram significativamente diferentes. A ET-1 sérica, em vez da ET-1 placentária, pode desempenhar um papel importante na patogênese da EP.
Resumo
. ;:231-237
Analisar se a ingestão de acetilsalicílico (ASA) modifica o índice médio de pulsatilidade das artérias uterinas (UtA-PI) no 2° ou 3° trimestre em uma coorte de gestantes com média anormal de UtA-PI entre 11 e 14 semanas.
Este é um estudo de coorte retrospectivo. Gravidezes únicas com média anormal de UtA-PI entre 11 e 14 semanas foram estudadas. As participantes foram divididas em 3 grupos: 1) Se a participante não tomou ASA durante a gravidez, 2) Se a participante tomou AAS antes das 14 semanas e 3) Se a participante tomou ASA após 14 semanas. A média do UtA-PI foi avaliada nos 2° e 3° trimestres e considerou-se que melhorava quando diminuía<95° percentil. Foram calculados a razão de prevalência (RP) e o número necessário para tratar (NNT).
Foram avaliadas 72 participantes com média de UtA-PI>95° percentil no 1° trimestre de gravidez. Das 18 participantes que tomaram ASA, 8 participantes começaram antes de 14 semanas e 10 depois. Um total de 33,3% desses participantes melhoraram a média de UtA-PI nos 2° e 3° trimestres, embora não tenha sido estatisticamente significante (p=0,154). A razão de prevalência foi de 0,95 (intervalo de confiança [IC95%]: 0,31-1,89), mas entre os 1° e o 2° trimestres, a RP foi de 0,92 (IC95%: 0,21-0,99) e foi estatisticamente significativa.
O presente trabalho demonstra uma modificação da média de UtA-PI em participantes que faziam uso de ASA em comparação com aqueles que não faziam. É importante verificar se o ASA pode modificar os limites normais das artérias uterinas porque isso pode ter um impacto na vigilância.
Resumo
. ;:686-691
Revisar a literatura e estimar a ocorrência de pré-eclâmpsia e suas complicações no Brasil.
Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, com a inclusão de estudos observacionais publicados até agosto de 2021, nas bases de dados PubMed e SciELO, que avaliavam pré-eclâmpsia em mulheres brasileiras. Outras variáveis de interesse foram morte materna, morte neonatal, síndrome de hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetopenia (hemolysis, elevated liver enzymes, and low platelet count, HELLP, em inglês) e eclâmpsia. Três revisores independentes avaliaram os estudos identificados e selecionaram aqueles que preenchiam os critérios de inclusão. Foi realizada uma meta-análise da prevalência de pré-eclâmpsia e eclâmpsia, para estimar sua frequência acumulada com relação aos estudos incluídos.
Foram identificados 304 estudos, 10 dos quais foram incluídos na análise final, num total de 52.986 mulheres. A frequência acumulada de pré-eclâmpsia foi de 6,7%, com um total de 2.988 casos. A frequência de eclâmpsia variou de 1,7% a 6,2%, ao passo que a ocorrência de síndrome de HELLP foi pouco relatada. A prematuridade associada a hipertensão foi de 0,5% a 1,7%.
A frequência de pré-eclâmpsia foi similar à de estudos internacionais; no entanto, ao longo dos últimos anos, ela vem aumentando no Brasil, possivelmente como reflexo da adoção de novos critérios diagnósticos. A criação de uma rede nacional de vigilância seria fundamental para entender o problema da hipertensão na gestação no país.
Resumo
. ;:904-910
Avaliar o índice médio de pulsatilidade da artéria uterina (UtAPI) em cada trimestre da gravidez como preditor de pré-eclâmpsia (PE) precoce ou tardia em gestantes colombianas.
O UtAPI foi medido em gestações únicas em cada trimestre. O UtAPI como preditor de PE foi avaliado por odds ratio (OR), curvas receiver operating characteristic (ROC) e diagrama de Kaplan-Meier.
A análise no 1° e 3° trimestres mostrou que um UtAPI anormal foi associado com PE inicial (OR: 5,99; intervalo de confiança [IC] 95%: 1,64–21,13; OR: 10,32; IC95%: 2,75–42,49, respectivamente). A sensibilidade e a especificidade foram de 71,4 e 79,6%, respectivamente, para o desenvolvimento de PE (area under the curve [AUC]: 0,922). A curva de Kaplan-Meier mostrou que um UtAPI de 0,76 (IC95%: 0,58– 1,0) no 1° trimestre foi associado com PE precoce, e que um UtAPI de 0,73 (IC95%: 0,55–0,97) no 3° trimestre foi associado com PE tardia.
As artérias uterinas mostraram ser uma ferramenta preditora útil no 1° e 3° trimestres para PE inicial e no 3° trimestre para PE tardia em uma população de gestantes com alta prevalência de PE.
Resumo
. ;:894-903
A hipertensão gestacional (GH) é caracterizada pelo aumento da pressão sanguínea após a 20ª semana de gestação; a presença de proteinuria e/ou sinais de danos a órgãos como rins, fígado e cérebro indicam pré-eclâmpsia (PE). A heme oxigenase-1 (HO-1) é uma enzima antioxidante com um papel importante na manutenção da função endotelial, e a sua indução por certas moléculas se mostra potencialmente benéfica frente à característica deletéria destas condições sobre o endotélio. Já foi demonstrado anteriormente que a produção de HO-1 pode ser induzida por iodeto de potássio (KI). Portanto, nós avaliamos os efeitos do KI sobre a citotoxicidade e expressão de HO-1 por células de veia de cordão umbilical humano (HUVECs) após incubação com o plasma de mulheres diagnosticadas com GH ou PE.
Células de veia de cordão umbilical humano foram incubadas com pool de plasma de gestantes saudáveis (n = 12), gestantes com GH (n = 10) ou gestantes com PE (n = 11) com ou sem a adição de KI por 24 horas para avaliar a citotoxicidade através da dosagem de lactato desidrogenase e produção de HO-1 por ELISA. Foi realizada ANOVA seguida de teste de Dunnet para múltiplas comparações entre os grupos estudados, considerando significativos valores de p ≤ 0,05.
A solução de KI (1.000 µM) reduziu a produção de HO-1 no grupo GH (p = 0.0018) e a citotoxicidade no grupo PE (p = 0.0143); o tratamento com KI não afetou a produção de HO-1 por HUVECs incubadas com o plasma do grupo PE.
Nossos achados sugerem que o KI atenua os efeitos do plasma de gestantes com GH ocasionando a diminuição da produção de HO-1; plasma do grupo PE não induziu a produção de HO-1 em HUVECs em comparação ao grupo saudável, e nossa hipótese é a de que tal achado pode ser devido a mecanismos pós-transcricionais em resposta a uma superestimulação da produção de HO-1 nos estágios iniciais da gravidez.