Resumo
. ;:142-148
Compreender os impactos da pandemia de COVID-19 nas taxas de gravidez clínica em fertilização in vitro (FIV) e analisar fatores que possam ter influenciado seu resultado.
Foi realizado um estudo observacional retrospectivo em um centro brasileiro de reprodução assistida. Todos os ciclos de FIV com embriões frescos e descongelados realizados entre 11 de março e 31 de dezembro, 2018-2021 foram analisados, e seus dados utilizados para cálculo das taxas de fertilização, clivagem embrionária, cancelamento de ciclos, transferência de embriões (TE) e gravidez clínica. Testes estatísticos avaliaram significância das alterações encontradas e modelos de regressão logística exploraram associação das variáveis categóricas estudadas com as taxas de gravidez clínica observadas. Os dados de 2018 e 2019 (pré-pandemia) e 2020 e 2021 (pandemia) foram agrupados.
Foram analisados um total de 756 ciclos (n = 360 na pré-pandemia e n = 396 na pandemia). A faixa etária das pacientes e as taxas de fertilização e de clivagem não tiveram alterações significativas (p > 0,05). Na pandemia, houve redução da porcentagem de ciclos de FIV com embriões frescos e aumento dos com descongelamento (p = 0,005). Também foi notado aumento das taxas de cancelamentos de ciclos com embriões frescos (p < 0,001) e redução do número de TEs (p < 0,001). A pandemia exerceu impacto negativo na taxa de gravidez clínica (p < 0,001), especialmente devido ao aumento de cancelamentos dos ciclos a fresco (p < 0,001).
Frente às limitações pandêmicas impostas aos ciclos com embriões frescos, os ciclos de descongelamento de embriões se apresentaram como alternativa viável à continuidade dos ciclos de FIV, garantindo gravidez clínica ainda que em taxas inferiores às do período pré-pandêmico.
Resumo
. ;:660-666
O presente estudo tem como objetivo descrever as principais características dos casais femininos que recorrem a uma clínica de fertilidade, perceber se estas pacientes têm planos prévios claros sobre a procriação, como acabam por completar o seu planejamento familiar e descrever sucintamente os principais resultados do método fertilização in vitro compartilhada lésbica (ROPA, na sigla em espanhol).
Trata-se de um estudo retrospectivo descritivo da trajetória e dos resultados de casais femininos em uma clínica de fertilidade durante um período de 2 anos.
Um total de 129 casais foram tratados. Apenas um terço dos casais não apresentava nenhuma condição que afetasse potencialmente a fertilidade ou idade avançada. A maioria dos casais optou pela inseminação artificial ou fertilização in vitro e a maioria manteve seus planos, ao contrário dos 38% dos casais que decidiram se submeter ao método ROPA que mudaram de planos. As taxas de nascidos vivos por tratamento (incluindo transferências de embriões congelados) – 22% para inseminação artificial, 58% para fertilização in vitro, 80% para tratamentos com oócitos ou embriões doados e 79% para ROPA. Quatro em cada cinco casais conseguiram nascidos vivos.
O presente estudo destaca a importância de um acompanhamento médico em casais femininos que recorrem à reprodução assistida. Apesar das taxas mais altas do que o esperado de distúrbios de fertilidade, os resultados foram bons. A maioria dos casais acaba em um método monoparental. Além disso, os resultados do método ROPA são tranquilizadores.
Resumo
. ;:578-585
Sabe-se que a transferência de embrião único (SET) é a melhor escolha para reduzir as gestações múltiplas e riscos associados. A prática da criopreservação de todos os embriões para transferência posterior tem sido cada vez mais utilizada para fertilização in vitro (FIV), em especial quando há risco de síndrome de hiperestimulação ovariana ou realização de teste genético pré-implantacional. Entretanto, sua utilização disseminada ainda é controversa. O objetivo deste estudo foi avaliar a eficácia de duas SET sequenciais em comparação com uma transferência de embrião dupla (DET) em ciclos de FIV onde todos os embriões foram criopreservados.
Neste estudo retrospectivo foram revisados 5.156 ciclos de FIV realizados entre 2011 e 2019, e 506 ciclos usando oócitos próprios e criopreservação de todos os embriões com transferências eletivas subsequentes de embriões descongelados, foram selecionados para este estudo. Ciclos com transferência eletiva de embrião único (eSET, n = 209) compuseram nosso grupo de estudo e como grupo de controle incluímos os ciclos com transferência eletiva de dois embriões (eDET, n = 291). No grupo eSET, 57 casais que falharam na 1ª tentativa de eSET tiveram uma 2ª eFET e a taxa de gravidez em curso cumulativa foi estimada para o grupo eSET e comparada com o grupo eDET.
Após a 1ª eFET, as taxas de gravidez em curso foram semelhantes entre os grupos (eSET: 35,4% versus eDET: 38,5%; p = 0,497), mas a taxa de gravidez em curso cumulativa estimada após a 2ª eFET no grupo eSET (eSET + SET) foi significativamente maior (48,8%) do que no grupo eDET (p <0,001). Além disso, as taxas de gestação múltipla foram expressivamente inferiores no grupo eSET + SET (2,7%) quando comparado ao grupo eDET (30,4%; p < 0,001).
Nosso estudo mostrou que a associação das estratégias de congelamento de todos os embriões com até duas eSETs sequenciais resultou em maiores taxas de sucesso do que uma DET com embriões descongelados, além de reduzir drasticamente a ocorrência de gestações múltiplas.
Resumo
. ;:161-168
A insuficiência ovariana prematura (POI) contribui significativamente para a infertilidade feminina. A ciclofosfamida (CYC) tem efeitos adversos na foliculogênese. O plasma rico em plaquetas (PRP) é um produto autólogo rico em muitos fatores de crescimento. Avaliamos o efeito protetor do PRP na fertilização in vitro em ratas com lesão ovariana induzida por CYC.
Vinte e oito ratas Sprague-Dawley adultas foram divididas aleatoriamente em quatro grupos. Grupo 1 (controle - cloreto de sódio 0,9%; 1mL/kg, injeção intraperitoneal [IP] em dose única); grupo 2 (CYC), 75mg/kg, injeção IP de dose única e cloreto de sódio 0,9% (1mL/kg, injeção ip de dose única); grupo 3 CYC+PRP, CYC (75mg/kg, dose única e PRP (200 μl, dose única) injeção IP); e grupo 4 (PRP, 200 μl, injeção IP de dose única).
Nas comparações em termos de ovócitos M1 e M2, observou-se que o grupo CYC apresentou uma quantidade significativamente menor que os grupos controle, CYC/PRP, e PRP. (Para M1, p=0,000, p=0,029, p=0,025; para M2, p=0,009, p=0,004, p=0,000, respectivamente). O número de oócitos fertilizados e embriões bicelulares de boa qualidade foi considerado estatisticamente significativo entre os grupos CYC e controle, CYC+PRP e grupos PRP (p=0,009, p=0,001, p=0,000 para oócitos, respectivamente. Para embriões, p=0,016, p=0,002, p=0,000).
O PRP pode proteger a função ovariana contra os danos causados pelo CYC e, além disso, proporciona melhora na contagem de oócitos e no desenvolvimento de embriões como resultado da estimulação ovariana durante o procedimento de fertilização in vitro.
Resumo
. ;:216-219
Avaliar a soroprevalência de marcadores positivos para sífilis, vírus da imunodeficiência humana (HIV) I e II, vírus linfotrópicos de células T humanas (HTLV) I e II e hepatite B e C em mulheres submetidas a fertilização in vitro (FIV).
Realizamos uma análise retrospectiva entre as pacientes submetidas a FIV, entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2016, e que possuíam prontuários completos.
Foram analisadas 1.008 pacientes submetidas a FIV, totalizando 2,445 ciclos. Duas pacientes (0,2%) apresentaram resultado positivo para HIV I e II, e nenhuma para HTLV I e II. Três pacientes (0,3%) apresentaram triagem positiva para sífilis, e duas (0,2%) apresentaram teste de pesquisa de anticorpos anti-HCV (anti-HCV) positivo. Um teste de antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HbsAg) positivo foi observado em 4 pacientes (0,4%), enquanto 47 (4,7%) pacientes foram positivas para anticorpos IgG contra o antígeno de superfície da hepatite B (IgG anti-HbC), e apenas 1 (0,1%) foi positiva para anticorpos IgM contra o antígeno central da hepatite B (IgM anti-HbC). O teste de anticorpos contra hepatite B (anti-HbS) foi negativo em 659 pacientes (65,3%). Apenas 34,7% das pacientes tinham imunidade contra o vírus da hepatite B. Pacientes comresultado negativo anti-HbS erammais velhas do que aquelas com resultado positivo anti-HbS (36,3 versus 34,9; p<0,001).
Este estudo mostrou taxas de infecção inferiores às taxas brasileiras para as doenças estudadas em pacientes submetidas à FIV. Apenas alguns pacientes foram imunizados contra a hepatite B.
Resumo
. ;:28-34
Determinar a qualidade do embrião (média de escore embrionário graduado [EEG]) em pacientes inférteis com endometriose submetidas à fertilização in vitro com transferência de embrião (FIV-TE) em comparação com pacientes inférteis sem endometriose.
Realizamos um estudo de caso-controle comparando 706 embriões (162 pacientes) divididos em dois grupos: 472 embriões derivados de pacientes sem endometriose (n = 109, pacientes inférteis com infertilidade tubária) e 234 embriões de pacientes do grupo de estudo (n= 53, inférteis pacientes com endometriose peritoneal). Todos os pacientes foram submetidos à fertilização in vitro usando um protocolo follicle-stimulating hormone (FSH) recombinante de estradiol-antagonista para estimulação ovariana. A média do EEGfoi realizada para avaliar todos osembriõesemtrêsmomentos: de 16 a 18 horas, 25 a 27 horas e 64 a 67 horas.A avaliaçãoembrionária foi realizada de acordo comos seguintes parâmetros: fragmentação, alinhamento nucleolar, aposição do corpo polar, número de blastômeros/morfologia e simetria. A medida de desfecho primário foi o escore médios embrionário (EEG). Também avaliamos como desfechos secundários as taxas de fertilização, implantação e gravidez.
Embora o número de embriões transferidos tenha sido maior em pacientes com endometriose do que no grupo controle (2,38 ± 0,66 versus 2,15 ± 0,54; p = 0,001), o EEGmédio foi semelhante nos dois grupos (71 ± 19,8 versus 71,9 ± 23,5; p = 0,881). Da mesma forma, a taxa de fertilização foi semelhante em todos os grupos, sendo 61% nos pacientes com endometriose e 59% no grupo controle (p = 0,511). Não foram observadas diferenças significativas nas taxas de implantação (21% versus 22%; [p = 0,989]) e nas taxas de gravidez (26,4% versus 28,4%; p = 0,989).
A qualidade embrionária medida pelo EEGmédio não foi influenciada pela endometriose peritoneal. Da mesma forma, os resultados reprodutivos avaliados foram semelhantes entre pacientes inférteis com e sem endometriose.
Resumo
. ;:493-499
Comparar os registros das técnicas de reprodução assistida da América Latina e da Europa em relação à qualidade dos dados e acesso, utilização do tratamento, efetividade, segurança e qualidade dos serviços.
Estudo ecológico usando os dados das publicações científicas dos registros da América Latina e da Europa com os ciclos iniciados durante o ano de 2013 (que são os dadosmais recentes disponíveis até dezembro de 2017). Os dados são apresentados como porcentagens, valores mínimos e máximos e números absolutos.
Em comum, vemos que o número de clínicas e de ciclos de tratamento varia bastante entre os países dentro de cada região emambos os registros, embora o acesso às técnicas de reprodução assistida seja 15 vezes maior na Europa. Na América Latina, os serviços reportam voluntariamente os ciclos iniciados até o cancelamento, o nascimento ou aborto, enquanto que na Europa o que é reportado varia entre os países. Isso faz o registro da América Latina mais uniforme, apesar de ser menos representativo quando comparado ao Europeu, dado o caráter compulsório na maioria dos países deste último. A taxa de gravidez cumulativa, idade feminina, uso de injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), ciclos comtransferência ≥ 3 embriões e taxa de gestação múltipla foram mais elevados na América Latina. Complicações da reprodução assistida, como síndrome de hiperestimulação ovariana, hemorragia, e infecções também foram mais comuns na América Latina, embora sejam incomuns em ambas as regiões.
Ambas as regiões têm pontos a melhorar na qualidade dos registros. A América Latina tem produzido um registro mais uniforme, e seus resultados clínicos são comparáveis e, algumas vezes, superiores aos Europeus. Por outro lado, a segurança do tratamento foi maior na Europa, com menores taxas de complicações, especialmente gestações múltiplas.
Resumo
. ;:348-351
Vasa previa (VP) é uma condição obstétrica perigosa associada a mortalidade e morbidade perinatais. Fertilização in vitro (FIV) é um fator de risco para VP devido à alta incidência de placentação anormal. O diagnóstico deve ser realizado no período pré-natal, pois a possibilidade de mortalidade fetal é extremamente elevada. Relatamos dois casos para demonstrar a acurácia da ultrassonografia transvaginal no diagnóstico pré-natal de VP. Mulher caucasiana, primigesta, de 40 anos, submetida a FIV, foi diagnosticada com VP na 29ª semana de gestação e hospitalizada para observação na 31ª semana de gestação. A paciente foi submetida à cesariana eletiva com 34 semanas e 4 dias, sem complicações, com recém-nascido do sexo masculino, pesando 2.380 g, e com Apgar de 10 no 5° minuto. Mulher caucasiana, primigesta, de 36 anos, subetida a FIV, foi diagnosticada com placenta prévia, placenta bilobada, acretismo placentário e VP. Cordão umbilical com inserção velamentosa. A paciente foi hospitalizada para observação na 26ª semana de gestação. Foi submetida à cesariana de emergência com33 semanas e 4 dias por sangramento vaginal. O recém nascido do sexo feminino pesou 2.140 g, com Apgar de 9 no 5°minuto. O diagnóstico de VP no período pré-natal associou-se a um desfecho favorável nos dois casos, corroborando observações anteriores de que a FIV é um fator de risco para VP e de que todas as gestações por FIV deveriam ser avaliadas por ultrassonografia transvaginal.