Resumo
. ;:485-492
O momento da admissão para o parto pode ser considerado inapropriado para oferecer o dispositivo intrauterino (DIU) para mulheres sem aconselhamento contraceptivo pré-natal. Entretanto, em países com elevadas taxas de cesáreas e aconselhamento contraceptivo deficiente, essa estratégia pode reduzir o risco de gestações não programadas e cesáreas repetidas.
Estudo de coorte envolvendo 100 mulheres sem aconselhamento contraceptivo pré-natal. A inserção de DIU pós-dequitação foi oferecida após a admissão para o parto e indicação de cesárea. As taxas de continuidade com o DIU, perfuração uterina e endometrite foram avaliadas após 6 semanas e 6 meses, e a proporção de mulheres que continuaram com o DIU após 6 meses foi analisada em relação ao número de cesáreas prévias.
Noventa e sete mulheres completaram o seguimento. A taxa de permanência do DIU foi de 91% em 6 semanas e 83,5% em 6 meses. A taxa de expulsão/ remoção nas primeiras 6 semanas foi não foi diferente daquela observada entre 6 emanas e 6 meses (9 vs 9,1%, respectivamente). Houve dois casos de endometrite (2,1%), e nenhum caso de perfuração uterina. Entre as 81mulheres que permaneceram como DIU após 6 meses, 31% haviam sido submetidas a apenas uma cesárea, em que o DIU foi inserido, 44% a 2, e 25% a 3 ou mais cesáreas.
Dois terços das mulheres que continuaram com o DIU após 6 meses haviam sido submetidas a 2 ou mais cesáreas. Considerando que oferecer a tentativa de parto vaginal após duas oumais cesáreas prévias é incomum, é possível que a oferta do DIU na admissão para o parto possa reduzir o risco de cesáreas repetidas e de seus riscos associados.
Resumo
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Apresentar um caso de fístula vesico-uterina e realizar revisão da literatura sobre esta condição.
Revisão realizada consultando-se as bases MEDLINE, BIREME e LILACS, além das referências dos artigos consultados.
Uma mulher de 38 anos, após sua terceira cesárea, no puerpério imediato, apresentou hematúria importante, que foi atribuída a uma dificuldade na dissecção da bexiga durante o procedimento. Seis meses pós-parto, emvez de retomar os ciclos menstruais regulares, apresentou menúria cíclica e amenorreia (síndrome de Youssef). A paciente chegou a apresentar obstrução uretral por coágulos, e permaneceu sem diagnóstico correto até cerca de anos pós-parto, quando este foi feito por cistoscopia. Ela foi então submetida a correção cirúrgica por via abdominal, associada a uma histerectomia, com desaparecimento dos sintomas. A revisão mostrou que tem havido mudança na frequência dos vários tipos de fístulas urogenitais. As fístulas vesicovaginais, normalmente secundárias à má assistência durante o parto, têm sido mais raras, enquanto aquelas secundárias a procedimentos médicos, como as vesicouterinas, têm sido mais frequentes. A causa mais comum deste tipo de fístula é a cesárea, especialmente a de repetição. A apresentação pode ser de amenorreia e menúria e/ou perda urinária. O diagnóstico é feito por um ou maismétodos de imagem ou cistoscopia. O tratamento mais comum é cirúrgico, por via abdominal aberta, laparoscópica, transvaginal ou robótica. Existem relatos de cura com tratamento conservador.
As fístulas vesicouterinas têm sido mais comuns devido ao aumento da proporção de cesáreas. Deve-se ter em mente a possibilidade deste diagnóstico e considerá-las uma das possíveis complicações da cesárea.
Resumo
. ;:513-517
A indução do trabalho de parto é uma prática comum e sua associação com o aumento da taxa de cesarianas tem sido questionada. O presente estudo surge com o objetivo de avaliar o impacto da indução do trabalho de parto na taxa global de cesarianas e de analisar as taxas de cesarianas de acordo com o método de indução do trabalho de parto utilizado e com o grupo de Robson.
Realizamos umestudo retrospectivo cominclusão de grávidas submetidas a indução do trabalho de parto em um hospital terciário em 2015 e 2016. Todas as mulheres forram classificadas de acordo com a classificação de Robson. As taxas de cesarianas foram analisadas e comparadas em função do método de indução de trabalho de parto utilizado.
Foram incluídos 1.166 casos. A taxa de cesarianas após a indução do trabalho de parto foi de 20,9%, correspondendo a 23,1% do total de cesarianas realizadas em 2015 e 2016. Os grupos 5 e 8 da classificação de Robson foram os que apresentaram as maiores taxas de cesarianas (65,2% e 32,3%, respectivamente). O grupo 2 foi o que mais contribuiu para a taxa global de cesarianas, por representar 56,7% do total da população. As prostaglandinas intravaginais foram o método mais utilizado (77%). O cateter de Foley transcervical foi o método mais utilizado no grupo 5 e as prostaglandinas intravaginais nos restantes. A taxa de cesarianas foi superior quando se utilizou o cateter de Foley transcervical (34,1%).
A indução do trabalho de parto com cateter de Foley transcervical associou-se a uma maior taxa de cesarianas, em provável relação com a sua maior utilização no grupo 5.
Resumo
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Os eventos de tromboembolismo venoso são causas importantes de morte materna durante a gravidez e o período do pós-parto em todo o mundo. Foi realizada uma revisão da literatura com o objetivo de avaliar os eventos de tromboembolismo venoso no puerpério de acordo com a via de parto utilizada, por meio de uma pesquisa bibliográfica nas bases de dados Medline, LILACS e Scielo. Observou-se que as pacientes submetidas a cesariana apresentam um risco significativamente maior de desenvolver tromboembolismo venoso do que aquelas que se submetem a parto vaginal espontâneo. As bases fisiopatológicas desta diferença foram exploradas e descritas nesta revisão, bem como as indicações de profilaxia e tratamento. O alerta contínuo dos médicos e profissionais de saúde é necessário, uma vez que se trata de uma condição comum associada a alta morbidade e mortalidade.
Resumo
. ;:60-65
O objetivo deste trabalho é avaliar quais os fatores de risco que podem levar pacientes com diabetes mellitus gestacional ao parto cesáreo.
Trata-se de um estudo retrospectivo descritivo. Foram sujeitos do estudo gestantes portadoras de diabetes mellitus gestacional atendidas em uma maternidade pública do Sul do Brasil. Os desfechos primários avaliados foram baseados em características maternas e fetais. Os dados foram relacionados por meio da razão de chance (RC) com intervalo de confiança de 95% (IC95%), calculado por meio da regressão logística multinominal.
Foram analisadas 392 pacientes com diabetes mellitus gestacional, das quais 57,4% tiveram o parto realizado por via cesariana. Dentre as características maternas, a idade média das pacientes e o índice de massa corporal pré-gestacional forammaiores nas ocasiões emque o parto cesáreo foi realizado (p = 0,029 e p < 0,01, respectivamente). Idade gestacional do parto, peso do recém-nascido, classe de peso de acordo com a idade gestacional e o Apgar não foram significativos. Analisando a RC, o fato de a gestante: ser obesa resultou em chance de parto cesáreo 2,25 (IC95% = 1,49- 2,39) vezes maior; ser primigesta resultou em chance de parto cesáreo 4,6 (IC95% = 3,017-7,150) vezes maior; e apresentar história de cesárea prévia resultou em 5,2 (IC95% = 2,702-10,003) vezes mais chance de ter uma nova cesárea. Os outros parâmetros analisados não apresentaram diferença.
Entre os fatores que acarretam aumento da ocorrência de nascimento por via cesariana, encontram-se: história de cesárea anterior, primeira gravidez e obesidade.
Resumo
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DOI 10.1590/SO100-720320150005391
Ocorrendo habitualmente após um stress físico ou emocional intenso, a miocardiopatia de Takotsubo caracteriza-se por disfunção aguda e transitória do segmento apical do ventrículo esquerdo, mimetizando uma síndrome coronária aguda. Essa é uma síndrome rara, na qual o diagnóstico diferencial assume particular importância. Um elevado nível de suspeição é essencial, pelo que obstetras e o restante da equipe devem estar preparados para diagnosticar e lidar com esse evento inesperado. O tratamento é fundamentalmente de suporte, verificando-se reversão espontânea e completa das alterações num intervalo de dias a semanas. A ocorrência de complicações podem ditar um prognóstico menos benigno. Apresentamos o caso de uma mulher de 39 anos, sem antecedentes relevantes. Submetida à cesariana por suspeita de sofrimento fetal. Terminada a intervenção iniciou quadro de bradicardia e precordialgia, com edema pulmonar. Apresentava alterações de enzimas cardíacas e do electrocardiograma. O ecocardiograma revelou disfunção sistólica do ventrículo esquerdo com hipocinésia de toda a parede anterior. O cateterismo cardíaco excluiu doença coronária obstrutiva.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2015;37(10):446-454
DOI 10.1590/SO100-720320150005264
Implantar um novo modelo de cuidado ao parto e reduzir o percentual de cesarianas entre as gestantes da UNIMED Jaboticabal.
Estudo descritivo desenvolvido em uma instituição do interior paulista, que teve início em 2012 e propôs o redesenho do modelo de cuidado ao parto com a revisão de todo o processo assistencial por meio da Ciência da Melhoria Contínua. Para medir os resultados das mudanças, foram selecionados nove indicadores e suas respectivas metas.
O indicador de partos vaginais atingiu a meta de 40%, após sete meses do início da intervenção. Este indicador entre as gestantes do SUS atingiu 66%. A taxa de mortalidade perinatal decresceu 25% comparando-se 2012 a 2014 e a taxa de prematuridade foi de 3/100 nascidos vivos em 2014. O percentual de gestantes da UNIMED com 6 ou mais consultas de pré-natal atingiu 95%. Em relação aos custos hospitalares per capita referentes à assistência ao parto, notou-se um decréscimo de 27%, quando comparados os anos de 2012 e 2013. Tal queda não se sustentou e o custo hospitalar per capita, em 2014, retornou aos mesmos patamares de 2012. A remuneração dos obstetras registrou um acréscimo de 72%, se comparados os anos de 2012, 2013 e 2014. Houve queda de 61% dos custos com a unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal, comparando os anos de 2012 e 2013. A taxa de admissão em UTI neonatal acompanhou a redução dos custos e foi de 55%, se comparados os anos de 2012 a 2014, entre as gestantes da UNIMED. Não houve o alcance da meta de 80% de participação das gestantes nos cursos de preparação para o nascimento. A porcentagem de gestantes satisfeitas e muito satisfeitas com a assistência ao parto atingiu 86%.
Este projeto atingiu seus objetivos, reduzindo o percentual de cesarianas entre as gestantes da UNIMED Jaboticabal, e constituiu-se em um exemplo concreto da realização do triplo objetivo em saúde: melhorar a experiência dos envolvidos e os resultados de saúde de populações e indivíduos e realizar estas duas tarefas com menor custo, eliminando desperdícios assistenciais.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2015;37(3):127-132
DOI 10.1590/SO100-720320150005120
Descrever os desfechos materno-fetais com o uso da sonda de Foley para indução do trabalho de parto em gestantes de alto risco com cesariana anterior.
Foi realizado um estudo de intervenção e descritivo, no período de novembro de 2013 a junho de 2014. Foram incluídas 39 gestantes a termo, com feto vivo, apresentação cefálica, peso estimado <4.000 g, cesariana prévia, com indicação de indução do trabalho de parto, escore de Bishop ≤6 e índice de líquido amniótico >5 cm. A sonda de Foley nº 16F foi introduzida, por no máximo 24 horas, sendo considerado satisfatória quando a paciente entrou em trabalho de parto nas primeiras 24 horas.
O trabalho de parto foi induzido satisfatoriamente em 79,5% das gestantes. Nove mulheres evoluíram para parto vaginal (23,1%), com uma frequência de 18% de partos vaginais ocorridos dentro de 24 horas. As principais indicações da indução do parto foram as síndromes hipertensivas (75%). As médias dos intervalos entre a colocação da sonda de Foley e o início do trabalho de parto e o parto foram de 8,7±7,1 e 14,7±9,8 horas, respectivamente. A eliminação de mecônio foi observada em 2 pacientes e o escore de Apgar <7 no primeiro minuto foi observado em 5 recém-nascidos (12,8%).
A sonda de Foley é uma alternativa para indução do trabalho de parto em gestantes com cesariana anterior, apesar da baixa taxa de parto vaginal.