Resumo
. ;:253-260
Avaliar o impacto da raça (negra versus não negra) nos desfechos maternos e perinatais de gestantes com COVID-19 no Brasil.
Esta é uma subanálise da REBRACO, um estudo de coorte multicêntrico brasileiro desenhado para avaliar o impacto da COVID-19 em mulheres grávidas. De fevereiro de 2020 a fevereiro de 2021, 15 maternidades do Brasil coletaram dados de mulheres com sintomas respiratórios. Selecionamos todas as mulheres com teste positivo para COVID-19; em seguida, as dividimos em dois grupos: mulheres negras e não negras. Finalmente, comparamos, entre os grupos, os resultados sociodemográficos, maternos e perinatais. Obtivemos a frequência dos eventos em cada grupo e comparamos usando o teste X2; Valores de p <0,05 foram considerados significativos. Também estimamos o odds ratio (OR) e os intervalos de confiança (IC).
729 mulheres sintomáticas foram incluídas no estudo; desses, 285 foram positivos para COVID-19, 120 (42,1%) eram negros e 165 (57,9%) não eram negros. As mulheres negras apresentaram pior escolaridade (p = 0,037). O tempo de acesso ao sistema de saúde foi semelhante entre os dois grupos, com 26,3% incluídos com sete ou mais dias de sintomas. Síndrome respiratória aguda grave (OR 2,22 CI 1,17–4,21), admissão em unidade de terapia intensiva (OR 2,00 CI 1,07–3,74) e dessaturação na admissão (OR 3,72 CI 1,41–9,84) foram mais prováveis de ocorrer entre mulheres negras. A mortalidade materna foi maior entre as negras (7,8% vs. 2,6%, p = 0,048). Os resultados perinatais foram semelhantes entre os dois grupos.
Mulheres negras brasileiras tiveram maior probabilidade de morrer devido às consequências da COVID-19.
Resumo
. ;:621-628
Dar más notícias é comum em obstetrícia e ginecologia. Porém, é difícil e poucos médicos recebem treinamento sobre como lidar com essa situação. Esta revisão narrativa tem como objetivo reunir, analisar e sintetizar parte do conhecimento sobre a área, com foco na obstetrícia. Dentre os 16 artigos selecionados, dois são estudos de intervenção randomizados e controlados, e a maioria dos estudos refere-se à obstetrícia. Os resultados encontrados ressaltaram que simulação, feedback/entrevistas, palestras e protocolos podem melhorar o desempenho dos médicos na comunicação de más notícias. Para os pacientes, o contexto e como as informações são transmitidas parecem ter maior impacto do que o conteúdo das notícias. Os obstetras e ginecologistas poderiam se beneficiar de cursos e protocolos específicos, dadas as particularidades da especialidade. Faltam evidências sobre a forma mais eficaz de realizar esse treinamento. Encontrar formas validadas de quantificar e classificar os resultados dos estudos na área, permitindo uma análise objetiva dos resultados, é um dos maiores desafios neste tema.
Resumo
. ;:327-335
Determinar os critérios preditivos para o sucesso na indução do trabalho de parto para fetos vivos utilizando misoprostol em gestantes. Em segundo lugar, o objetivo é determinar as taxas de parto vaginal ou cesáreo, duração da indução, intervalo de administração de misoprostol, as principais causas de indução do trabalho de parto e indicação para parto operatório.
Foram revisados os prontuários de 873 gestantes internadas para amadurecimento cervical entre janeiro de 2017 e dezembro de 2018 em um estudo descritivo observacional de análise retrospectiva, considerando as variáveis-resposta: idade, paridade, Índice de Bishop, doses de misoprostol, tempo de indução do trabalho de parto. Modelos de regressão logística foram utilizados para prever o sucesso com misoprostol em partos não operatórios.
Dos 873 pacientes avaliados, 72% evoluíram com parto vaginal, 23% dos casos foram cesáreos, 5% fórceps ou vácuo-extrator. Para o parto não operatório as variáveis preditivas na internação foram idade, paridade, idade gestacional e dilatação. Durante a internação, um menor número de toques vaginais, amniotomia ou amniorrexe com líquido claro, levam a menor tempo de indução e maior chance de parto não operatório. Falsos positivos e falsos negativos do modelo sempre foram inferiores a 50% e respostas corretas acima de 65%.
Na internação, idade menor que 24 anos, ocorrência de partos normais anteriores, menor idade gestacional e maior dilatação, foram preditivos de maior probabilidade de parto não-operatório. Durante a internação, o menor número de toques vaginais, amniotomia/amniorrexe com líquido claro indicam menor tempo de indução. Estudos futuros com design prospectivo e análise de outros fatores são necessários para avaliar a replicabilidade, generalização desses achados.
Resumo
. ;:248-254
Avaliar os resultados maternos e perinatais em gestação de mulheres com hipertensão crônica.
Coorte retrospectiva de mulheres hipertensas crônicas acompanhadas em hospital de referência por 5 anos (2012-2017). Foi realizada revisão dos prontuários médicos e os resultados são descritos em médias e frequências. A regressão de Poisson foi usada para identificar os fatores independentemente associados à ocorrência de pré-eclâmpsia superajuntada.
Um total de 385 mulheres foram incluídas no presente estudo, e amaioria tinha idade > 35 anos, era multípara, majoritariamente brancas e obesas antes da gravidez. Um terço teve pré-eclâmpsia em gestação anterior, e 17% apresentavam lesão de órgão-alvo associada à hipertensão, majoritariamente disfunção renal. Um total de 85% das pacientes usaram ácido acetilsalicílico e carbonato de cálcio para a profilaxia de pré-eclâmpsia, sendo que a frequência de pré-eclâmpsia superajuntada foi de 40%, com um início prematuro (32.98 ± 6.14 semanas). Destas, 40% apresentaram sinais de gravidade associados à pré-eclâmpsia, com 5 casos de síndrome HELLP; entretanto sem nenhum caso de eclampsia ou morte materna. A incidência de cesárea foi alta, comidade gestacional de 36 semanas ao parto, e umterço dos recém-nascidos tiveram complicações ao nascimento. Um terço das mulheres permaneceu usando medicamentos anti-hipertensivos ao fim da gravidez.
A hipertensão crônica se relaciona comalta prevalência de pré-eclâmpsia, cesárea, prematuridade e complicações neonatais. Vigilância e cuidado multidisciplinar são importantes para o diagnóstico precoce das complicações.
Resumo
. ;:636-646
Determinar o nível e os fatores associados a conhecimento, atitude e prática (CAP) dos obstetras brasileiros em relação à episiotomia.
Foi realizado um estudo de corte transversal do tipo inquérito CAP com obstetras atuantes no território brasileiro. Foi criado um formulário eletrônico com perguntas estruturadas e previamente avaliadas pelo método Delphi, que foi enviado por e-mail pelo sistema Google Docs. Foi realizada uma análise multivariada de regressão logística múltipla para determinação dos principais fatores associados ao conhecimento, à atitude e à prática adequados. Para cada variável dependente (conhecimento, atitude e prática) codificada como adequada (1 = sim; 0 = não) foi construído um modelo de regressão logística múltipla. Todas as variáveis independentes ou preditivas foram codificadas binariamente (1 = sim; 0 = não). As razões de prevalência (RPs) e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (ICs95%) foram calculados como medidas do risco relativo, com um nível de significância de 5%.
Dos 13 mil obstetras contatados, foram obtidas 1.163 respostas, sendo 50 participantes excluídos. A média da taxa de episiotomia relatada foi de 42%. Verificou-se que 44,5% dos médicos tinham conhecimentos adequados, 10,9% tinham atitudes adequadas e 26,8% tinham práticas adequadas.
A maioria dos participantes tinha conhecimento, atitudes e práticas inadequadas em relação à episiotomia. Embora alguns fatores como idade, ensino, trabalho no setor público e participação em congressos melhorem o conhecimento, a atitude e a prática, é preciso reconhecer que as taxas de episiotomia permanecem bem acima do que se considera ideal. O conhecimento adequado é mais prevalente do que a atitude ou a prática adequadas, indicando que a melhora do conhecimento é crucial, mas insuficiente para mudar o panorama das episiotomias neste país.
Resumo
. ;:670-675
Relatar a experiência de um curso de educação a distância sobre questões sexuais na gestação e puerpério para médicos residentes.
Estudo prospectivo de intervenção educacional, realizado entre abril e setembro de 2014, por investigadores da Universidade Federal de São Paulo. Os participantes foram 219 médicos (R1 a R6). O curso teve carga horária de 24 horas (10 videoaulas e discussões online). No início do curso, os participantes responderam perguntas sobre treinamento, atitude e prática relativas a questões sexuais na gestação; antes e após o curso, responderam perguntas de conhecimento sobre o tema; ao final, preencheram questionário sobre a qualidade do curso. O teste t de Student foi utilizado para comparar os testes de conhecimento, antes e após o curso; valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significantes.
Um total de 143 residentes concluiu o curso; a maioria estava no 1° (27,2%) ou 3° (29,4%) anos de residência. Houve aumento significativo nas notas médias dos questionários que avaliavam o conhecimento sobre o tema: 4,4 (1,6) versus 6,0 (1,3; nota máxima: 10), no início e final do curso, respectivamente (p < 0,0001). A maioria dos participantes (74,1%) declarou que a qualidade geral do curso atingiu suas expectativas, e 81,1% recomendariam o curso a um amigo.
O curso de Sexologia online para residentes de Ginecologia e Obstetrícia promoveu o aumento do conhecimento sobre questões sexuais no ciclo gravídico puerperal, e atendeu às expectativas dos participantes. Essa experiência pode servir de modelo para outros cursos de sexualidade voltados para esse público.
Resumo
. ;:317-321
Este estudo objetivou validar o exame qualitativo da subunidade β da gonadotrofina coriônica humana (β-hCG) em lavado vaginal de gestantes com ruptura prematura de membranas (RPM) fetais.
Estudo transversal de gestantes com 24 a 39 semanas atendidas em um hospital de Maringá divididas em 2 grupos: grupo A (clinicamente diagnosticadas com RPM) e grupo B (gestantes sem perda de liquido amniótico). As pacientes foram submetidas a lavado vaginal com 3 mL de soro fisiológico, que logo em seguida foi aspirado de volta na mesma seringa e imediatamente enviado ao laboratório para a realização do exame de β-hCG vaginal com pontos de corte de 10 mIU/mL (β-hCG-10) e/ ou 25 mIU/mL (β-hCG-25).
O teste de β-hCG-10 na secreção vaginal foi realizado em 128 casos, e o teste do qui-quadrado com correção de Yates mostrou diferença significante entre os dois grupos (p = 0,0225). Os parâmetros de sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP), valor preditivo negativo (VPN) e acurácia foram respectivamente 77,1%; 43,6%; 52,3%; 70,4%; e 58,6%. O teste de β-hCG-25 na secreção vaginal foi realizado em 49 casos, e a análise pelo teste exato de Fisher mostrou diferença significativa entre os grupos (p = 0,0175). Os parâmetros de sensibilidade, especificidade, VPP, VPN e acurácia foram respectivamente 44,4%; 87,1%; 66,6%; 72,9%; e 71,4%.
O β-hCG-25 apresentou melhor acurácia para o diagnóstico de RPM, e pode corroborar o diagnóstico precoce de RPM por se tratar de um exame simples e rápido.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2015;37(5):241-246
DOI 10.1590/SO100-720320150005304
Foi analisar as áreas mais críticas em Obstetrícia e sugerir medidas para reduzir
ou evitar as situações mais frequentemente envolvidas nessas disputas.
Foram avaliados todos os casos relativos à Obstetrícia apresentados ao Conselho
Médico-legal desde a criação do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências
Forenses em 2001, até 2011. Foi efetuada uma análise compreensiva, determinação de
frequências absolutas/relativas, hipótese de linear trend ao longo dos anos e a
associação entre os diversos parâmetros.
As razões mais comuns para o litígio foram a asfixia perinatal (50%), as lesões
traumáticas do recém-nascido (24%), as sequelas maternas (19%) e questões
relacionadas com o diagnóstico pré-natal e/ou ecografia obstétrica (5,4%). A
asfixia perinatal não teve qualquer tendência linear ao longo dos anos (p=0,58) e
esteve geralmente relacionada a mortes perinatais ou sequelas neurológicas
permanentes nos recém-nascidos. As lesões traumáticas do recém-nascido,
principalmente relacionadas com partos instrumentados, distócia de ombros ou parto
vaginal em apresentação pélvica, mostrou uma tendência linear de aumento
significativo ao longo dos anos (p<0,001), especialmente relacionada com a
instrumentação dos partos. O atraso/ausência de cesariana foi o procedimento
clínico questionado num número significativamente maior de casos de asfixia
perinatal (68,7%) e de lesões traumáticas do recém-nascido devido a partos
instrumentados (20,5%).
É importante melhorar e corrigir o desempenho teórico/prático da clínica diária
nas áreas destacadas, a fim de reduzir ou mesmo evitar situações que poderão levar
a litígio médico-legal em obstetrícia.