Resumo
. ;:10-18
Caracterizar e comparar os desfechos do onfalocelo e gastrosquisis desde o nascimento até aos 2 anos de seguimento numa coorte recente de um centro terciário.
Este é um estudo retrospectivo em que foi feita uma revisão dos registos clínicos de todos os pacientes com gastrosquisis e onfalocelo que foram internados na unidade de cuidados intensivos neonatais, entre janeiro de 2009 e dezembro de 2019.
Identificamos 38 pacientes, 13 dos quais tinham onfalocelo e 25 dos quais tinham gastrosquisis. Anomalias associadas estavam presentes em 6 pacientes (46.2%) com onfalocelo e 10 (41.7%) com gastrosquisis. Comparativamente com os pacientes com onfalocelo, os pacientes com gastrosquisis tinham mães mais jovens (24.7 versus 29.6 anos; p=0.033), nasceram mais precocemente (36 versus 37 semanas, p=0.006), com menor peso ao nascimento (2,365±430.4 versus 2,944.2±571.9 g; p=0.001), e o internamento teve uma duração mais longa (24 versus 9 dias, p=0.001). A taxa de sobrevivência neonatal foi de 92.3% para o onfalocelo e 91.7% para a gastrosquisis. Trinta e quatro pacientes foram seguidos durante umtempo mediano de seguimento de 24meses: 13 com gastrosquisis (59.1%) e 8 com onfalocelo (66.7%) apresentaram pelo menos um evento adverso, sobretudo hérnia umbilical (27.3% vs 41.7%), obstrução intestinal (31.8% vs 8.3%) ou intervenções cirúrgicas adicionais (27.3% vs 33.3%).
Apesar da alta proporção de prematuridade, de baixo peso e de recuperação lenta, os gastrosquisis, assim como os onfalocelos (sem anomalias cromossómicas), podem ter uma taxa de sobrevivência muito alta; por outro lado, nos primeiros anos de vida, podem surgir complicações não desprezíveis. Assim, aos futuros pais pode ser transmitida uma perspectiva muito positiva em termos de sobrevivência, embora eles também devam ser informados de que pode ocorrermorbidade substancial no médio prazo.
Resumo
. ;:97-106
Casos de near miss materna são aqueles em que as mulheres sobrevivem a graves complicações maternas durante a gravidez ou o puerpério. Este estudo ecológico teve comoobjetivo identificar a tendência temporal de casos de near missemdiferentes regiões do Brasil entre 2010 e 2018, utilizando dados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Sistema Único de Saúde (SUS). Foram selecionados registros de internação demulheres entre 10 e 49 anos comdiagnóstico incluído na 10ª revisão daClassificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) e códigos indicando eventos de near miss. Das 20.891.040 internações por causas obstétricas, 766.249 (3,66%) casos de near miss foram identificados, e 31.475mulheres necessitaramde internação na unidade de terapia intensive (UTI). Constatou-sequeos casos sãomaispredominantesemmulheres negras commais de 35 anos da região Norte e Nordeste. Houve uma tendência de aumento nas taxas de near miss de aproximadamente 13,5% ao ano durante o período do estudo. A tendência apresentou um comportamento diferente, dependendo do nível de desenvolvimento da região estudada. As principais causas de near miss foram pré-eclâmpsia (47%), hemorragia (24%), e sepse (18%).
Resumo
. ;:587-595
Identificar a prevalência da morbidade materna e os fatores socioeconômicos, demográficos e de assistência à saúde associados a ela em uma capital do Nordeste brasileiro.
Estudo seccional, de base populacional, com desenho de amostras complexas. Aplicou-se umquestionário validado paramorbidade materna em848 mulheres com idade entre 15 e 49 anos selecionadas em 8.227 domicílios distribuídos em 60 setores censitários de Natal, capital do Rio Grande do Norte, Brasil. O desfecho principal foi a morbidade materna. A análise multivariada foi feita por meio da regressão de Poisson, com 5% de significância.
A prevalência de morbidade materna foi de 21,2%. A análise bivariada encontrou associação entre o maior número de complicações obstétricas com: mulheres da raça preta/parda (razão de prevalência [RP] = 1,23; intervalo de confiança de 95% [IC95%]: 1,04-1,46); pior condição socioeconômica (RP = 1,33; IC95%: 1,12-1,58); pré-natal na rede pública (RP = 1,42; IC95%: 1,16 -1,72); mulheres que não foram informadas sobre o lugar da realização do parto durante o pré-natal (RP = 1,24; IC95%: 1,05-1,46); mulheres que realizaram o parto na rede pública (RP = 1,63; IC95%: 1,30-2,03); pacientes que percorreram mais de um hospital para realizar o parto (RP = 1,22; IC95%: 1,03-1,45); e aquelas que não tiveram acompanhante em todos os momentos da assistência ao parto - antes, durante e depois do parto (RP = 1,25; IC95% = 1,05-1,48). No modelo final da regressão, tanto o local do parto quanto a condição socioeconômica mantiveram a associação.
A maior prevalência da morbidade materna esteve associada às piores condições socioeconômicas e à realização do parto na rede pública. Isso reforça a necessidade de fortalecimento de políticas públicas que reduzam as desigualdades em saúde.
Resumo
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DOI 10.1590/SO100-720320150005286
Avaliar os fatores determinantes da morbimortalidade em unidade de terapia intensiva obstétrica de um hospital universitário.
Estudo observacional de corte transversal com 492 gestantes ou puérperas. Foram selecionadas pacientes internadas na unidade de terapia intensiva obstétrica no período de um ano, sendo informadas sobre as propostas do estudo e realizada aplicação do questionário. A análise foi feita através do Microsoft Excel 2013 e GraphPad Prism 6. Foram empregados testes do χ2 para verificar associação entre os fatores de risco para morbimortalidade materna grave.
Foram encontrados como riscos relativos significativamente elevados para desenvolvimento de near miss quando comparada à morbidade materna grave, a raça não branca (OR=2,5; RP=2,3); pacientes casadas (OR=7,9; RP=7,1), escolaridade até 2º grau incompleto (OR=3,1; RP=2,8), procedente do interior (OR=4,6; RP=4,0), renda familiar menor que 1 salário mínimo (OR=7,0; RP=5,5), distúrbios hipertensivos gestacionais (OR=16,3; RP=13,2), realização do pré-natal (OR=5,0; RP=4,2) e a via de parto cesárea (OR=39,2; RP=31,2).
Questões socioeconômicas, clínicas e assistenciais mostraram-se relacionados à prevalência de near miss , revelando a importância de intervenções amplas para melhorar esses indicadores. Reforça-se a importância da realização de pré-natal para identificação de riscos potenciais, garantia de um suporte nutricional à gestante, tratamento de doenças e estabelecimento de programa de imunização materna, assim como uma melhor assistência no que tange aos aspectos clínicos das pacientes, objetivando diminuir o risco obstétrico e neonatal.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2014;36(10):442-448
DOI 10.1590/SO100-720320140004941
Identificar os fatores obstétricos e perinatais associados à morbimortalidade perinatal em gestações que cursaram com amniorrexe prematura.
Estudo transversal de base hospitalar, com dados secundários de prontuários de pacientes (n=87) que evoluíram com quadro de amniorrexe prematura com idade gestacional entre 24 e 42 semanas, definida pela ultrassonografia, e internadas no período de janeiro a abril de 2013 em uma maternidade pública no estado do Acre, região Norte do Brasil. Os dados foram submetidos à análise bivariada para seleção de variáveis que compuseram o modelo múltiplo utilizando a técnica de regressão logística de Poisson.
A prevalência de morbimortalidade perinatal foi de 51,4%. Nesse total estão computados 2,3% de óbitos fetais (2 casos) e 9,2% de óbitos neonatais (8 casos). As variáveis que apresentaram associação no modelo múltiplo final com morbimortalidade foram: número de consultas de pré-natal ≥6, com razão de prevalência (RP) 0,5 e intervalo de confiança de 95% (IC95%) 0,3-0,9, idade gestacional ≥30 semanas (RP=0,6; IC95% 0,4-0,8), baixo peso ao nascer (RP=2,9; IC95% 1,5-5,4) e necessidade de ventilação mecânica (RP=3,8; IC95% 2,0-7,2).
Observou-se elevada morbimortalidade perinatal entre casos que cursaram com amniorrexe prematura. A morbimortalidade esteve associada a fatores como menor número de consultas de pré-natal, extrema prematuridade e o baixo peso.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2013;35(11):516-522
DOI 10.1590/S0100-72032013001100007
OBJETIVO: Analisar o impacto do parto vaginal, após uma cesárea prévia, sobre os resultados perinatais. MÉTODOS: Estudo caso-controle, com seleção de casos incidentes e controles consecutivos, no qual foram analisadas variáveis maternas e perinatais. Compararam-se gestantes secundigestas com parto cesáreo prévio (n=375) e que deram à luz via transpélvica (PVPC), com gestantes com os mesmos critérios de inclusão, mas submetidas a operação cesariana (PCPC, n=375). Foram considerados critérios de inclusão: gestantes secundigestas que tenham dado à luz por meio de parto cesariana na gestação anterior; gestação única e de termo; feto em apresentação cefálica, sem malformação congênita; ausência de placenta prévia ou qualquer tipo de sangramento de terceiro trimestre gestacional. RESULTADOS: No estudo, a taxa de PVPC foi de 45,6%, sendo que 20 deles (5,3%) foram ultimados com o fórceps. Observou-se associação significante entre PVPC e idade materna inferior a 19 anos (p<0,01), etnia caucasiana (p<0,05), número médio de consultas de pré-natal (p<0,001), tempo de ruptura prematura das membranas (p<0,01), tempo de trabalho de parto inferior a 12h (p<0,045), índice de Apgar inferior a sete no 5º minuto (p<0,05), tocotraumatismo fetal (p<0,01) e anoxia (p<0,006). No grupo de recém-nascidos por PCPC observou-se maior frequência de taquipneia transitória (p<0,014), disfunções respiratórias (p<0,04) e maior tempo de internação na unidade de tratamento intensivo neonatal (p<0,016). Houve apenas um caso de ruptura uterina no grupo PVPC. O número de neomortos foi idêntico em ambos os grupos. CONCLUSÕES: A via de parto vaginal em secundigestas com cesárea prévia associou-se a aumento significativo da morbidade neonatal. Serão necessários mais estudos para elaborar estratégias que visem melhorias dos resultados perinatais e de auxílio aos profissionais, de forma que estes possam melhor orientar as suas pacientes na escolha da via de parto mais adequada.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2012;34(5):235-242
DOI 10.1590/S0100-72032012000500008
OBJETIVO: Avaliar a sobrevida e complicações associadas à prematuridade em recém-nascidos com menos de 32 semanas. MÉTODOS: Estudo prospectivo do tipo coorte. Foram incluídos os nascidos vivos, com idade gestacional entre 25 semanas e 31 semanas e 6 dias, sem anomalias congênitas admitidos em UTI Neonatal, entre 1º de agosto de 2009 e 31 de outubro de 2010. Os recém-nascidos foram estratificados em três grupos: G25, 25 a 27 semanas e 6 dias; G28, 28 a 29 semanas e 6 dias; G30, 30 a 31 semanas e 6 dias, e acompanhados até 28 dias. Foram avaliadas a sobrevida aos 28 dias e a morbidade associadas à prematuridade. Para análise dos resultados, utilizou-se o teste do c², análise de variância, teste de Kruskal-Wallis, razão de risco com intervalo de confiança (IC) e regressão logística múltipla, com significância em 5%. RESULTADOS: A coorte compreendeu 198 prematuros, sendo G25=59, G28=43 e G30=96. O risco de óbito foi significativamente maior em G25 e G28, em relação ao G30 (RR=4,1; IC95% 2,2-7,6 e RR=2,8; IC95% 1,4-5,7). A sobrevida encontrada foi, respectivamente, 52,5, 67,4 e 88,5%. A partir da 26ª semana e peso >700 g, a sobrevida foi superior a 50%. A morbidade foi inversamente proporcional à idade gestacional, exceto para enterocolite necrosante e leucomalácia, que não diferiram entre os grupos. A análise de regressão logística mostrou que a hemorragia pulmonar (OR=3,3; IC95% 1,4-7,9) e a síndrome do desconforto respiratório (OR=2,5; IC95% 1,1-6,1) foram fatores independentes de risco para óbito. Houve predomínio das lesões cerebrais hemorrágicas graves em G25. CONCLUSÕES: Sobrevivência superior a 50% ocorreu a partir da 26ª semana de gravidez e peso >700 g. A hemorragia pulmonar e a síndrome do desconforto respiratório foram preditores independentes de óbito. Há necessidade de identificar e instituir práticas para melhorar a sobrevida de prematuros extremos.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2011;33(12):395-400
DOI 10.1590/S0100-72032011001200004
OBJETIVO: Analisar a prevalência de Streptococcus agalactiae, um estreptococo do Grupo B, em gestantes e seus possíveis fatores de risco, bem como o impacto perinatal e a suscetibilidade antimicrobiana das colonizadas. MÉTODOS: Foram avaliadas 213 gestantes a partir de 20 semanas de gestação, independente dos fatores de risco, atendidas em um hospital-escola terciário da zona Norte do Estado de Ceará, no Brasil. O cálculo do tamanho amostral ocorreu por conveniência. Foi utilizada técnica do swab estéril único para coleta de secreção das regiões vaginal e perianal. As amostras recém-obtidas eram armazenadas em meio de transporte Stuart e, no laboratório, inoculadas em meio seletivo Todd-Hewitt adicionado de gentamicina (8 ug/mL) e ácido nalidíxico (15 ug/mL), com posterior subcultivo em placas em ágar-sangue. Nos materiais eram realizados teste de Gram, catalase com peróxido de oxigênio e CAMP (Christie, Atkins, Munch-Petersen), sendo confirmados sorologicamente com Streptococcal Grouping Kit, Oxoid®. As positivas foram submetidas a testes de suscetibilidade antimicrobiana. Foram também avaliadas variáveis socioeconômicas, reprodutivas, clínico-obstétricas e neonatais. Os dados foram analisados utilizando o programa Epi-Info 6.04. RESULTADOS: A prevalência de colonização encontrada foi de 9,8% pelo teste de CAMP, embora apenas 4,2% pelo sorológico. O único fator de proteção observado foi cor da pele branca (p=0,01, 0.45>OR>0.94, IC95%). Não foi observada diferença de prevalência do estreptococo do Grupo B com outras variáveis reprodutivas ou obstétricas. Ocorreu infecção em apenas um dos recém-nascidos de mães colonizadas, entretanto revelou-se infecção por Pseudomonas spp. Foi encontrada resistência para ampicilina (4/9) e cefalotina (4/9), penicilina (4/9 casos), eritromicina (3/9), clindamicina (7/9) e cloranfenicol (1/9). CONCLUSÕES: A taxa de infecção foi inferior à encontrada em outros estudos, embora também notou-se grande taxa de resistência aos antibióticos mais utilizados no tratamento. São necessários novos estudos no Brasil, com grupos geograficamente semelhantes, para a validação desses resultados.