Resumo
. ;:747-753
Descrever uma coorte de casos do espectro do acretismo placentário (PAS) de uma instituição terciária e comparar os resultados maternos antes e depois da criação de uma equipa multidisciplinar (MDT).
Estudo retrospectivo utilizando bancos de dados hospitalares. Identificação de casos de PAS com confirmação patológica entre 2010 e 2021. Divisão em dois grupos: grupo Standard Care (SC) – 2010–2014; e grupo MDT – 2015–2021. Análise descritiva de suas características e desfechos maternos.
Durante o período do estudo, houve 53 casos de PAS (24 - grupo SC; 29 - grupo MDT). Grupo Standard Care: 1 placenta increta e 3 percretas; 12,5% (3/24) tiveram suspeita anteparto; 4 casos tiveram histerectomia periparto – uma eletiva devido à suspeita anteparto de PAS; 3 devido a hemorragia pós-parto. A média de perda hemática estimada (EBL) foi de 2.469 mL; transfusão de concentrado eritrocitário (PRBC) em 25% (6/24) - mediana 7,5 unidades. Equipa multidisciplinar: 4 casos de placenta increta e 3 percretas. A taxa de suspeita anteparto foi de 24,1% (7/29); foram realizadas 9 histerectomias, 7 eletivas por suspeita anteparto de PAS, 1 após diagnóstico intraparto de PAS e 1 após rotura uterina após interrupção da gravidez no segundo trimestre. A EBL média foi de 1.250 mL, com transfusão de PRBC em 37,9% (11/29) - mediana de 2 unidades.
Após a criação da MDT, houve redução na média de EBL e na mediana do número de unidades de PRBC transfundidas, apesar do maior número de PAS invasivos.
Resumo
. ;:593-601
Doença falciforme (DF) é a condição genética mais comum no mundo, com uma prevalência variável nos continentes. A substituição de um nucleotídeo muda um aminoácido na cadeia da β globina, e altera a estrutura normal da hemoglobina, que é então chamada de hemoglobina S, e pode ser herdada em homozigose (HbSS) ou heterozigose (HbSC, HbSβ), e leva a hemólise crônica, vaso-oclusão, inflamação, e ativação endotelial. Realizou-se uma revisão narrativa da literatura considerando doença falciforme e gestação, as complicações clínicas e obstétricas, o cuidado antenatal específico, e o seguimento para monitoramento materno e fetal. Gestantes com DF têm maior risco de desenvolver complicações clínicas e obstétricas, como crises dolorosas, complicações pulmonares, infecções, eventos tromboembólicos, préeclâmpsia, e morte materna. E seus recém-nascidos correm maior risco de desenvovler complicações neonatais: restrição de crescimento fetal, prematuridade e óbito fetal/ neonatal. Complicações graves podem ocorrer em qualquer genótipo da doença. Concluiu-se que DF é uma condição de alto risco que aumenta a morbimortalidade materna e perinatal. Um seguimento com abordagem multidisciplinar na gestação e puerpério é fundamental para o diagnóstico e o tratamento das complicações.
Resumo
. ;:207-215
Avaliar a evidência disponível acerca da transmissão vertical do coronavírus da síndrome respiratória aguda grave 2 (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2, SARS-CoV-2, em inglês).
Foi realizada uma busca eletrônica em 13 de junho de 2020 nas plataformas Embase, PubMed e “Scopus utilizando os seguintes termos de busca: (Coronavirus OU COVID-19 OU COVID19 OU SARS-CoV-2 OU SARS-CoV2 OU SARSCoV2) E (vertical OU pregnancy OU fetal).
A busca eletrônica resultou em um total de 2.073 registros. Títulos e resumos foram revisados por dois autores (WPM, IDESB), que verificaram a ocorrência de duplicidade e utilizaram critérios preestabelecidos para o rastreamento (estudos publicados em inglês sem limitações quanto à data ou à situação da publicação).
A extração de dados foi realizada de forma padrão, e a eligibilidade final foi definida poir meio da leitura do artigo completo. Foram coletados dados dos partos de casos com potencial transmissão vertical, bem como os principais achados e conclusões de revisões sistemáticas.
Foram revisados os 2.073 registros; 1.000 duplicatas e 896 registros claramente não elegíveis foram excluídos. Avaliamos os artigos completos de 177 registros, e identificamos apenas 9 casos de potencial transmissão vertical. O único caso com evidência suficiente de transmissão vertical foi relatado na França.
O risco de transmissão vertical pelo vírus SARS-CoV-2 é provavelmente muito baixo. Apesar de milhares de gestantes afetadas, identificamos apenas um caso que preencheu critérios suficientes para que fosse confirmado como um caso de transmissão vertical. Estudos observacionais bem desenhados que avaliem grandes amostras ainda são necessários para se determinar o risco de transmissão vertical, a depender da idade gestacional na infecção.
Resumo
. ;:717-725
Comparar o tipo de manejo (ativo versus expectante) para ruptura prematura de membranas (PPROM, na sigla em inglês) entre 34 e 36 semanas e 6 dias de gestação e os resultados perinatais adversos relacionados, em 2 hospitais terciários do sudeste brasileiro.
No presente estudo de coorte retrospectivo, os dados foram obtidos através da revisão dos prontuários de gestantes internadas em dois centros terciários com protocolos diferentes para o seguimento da PPROM. As gestantes foram divididas em dois grupos com base no manejo da PPROM: grupo I (ativo) e grupo II (expectante). Para análise estatística, foram utilizados o teste t de Student, qui-quadrado e regressão logística binária.
Das 118 gestantes incluídas, 78 foram submetidas a tratamento ativo (grupo I) e 40 a seguimento expectante (grupo II). Comparado ao grupo II, o grupo I apresentou índice de líquido amniótico médio significativamente menor (5,5 versus 11,3 cm, p = 0,002), reação em cadeia da polimerase na admissão (1,5 versus 5,2 mg/dl, p = 0,002), tempo de antibióticos profiláticos (5,4 versus 18,4 horas, p < 0,001), tempo de latência (20,9 versus 33,6 horas, p = 0,001) e idade gestacional no parto (36,5 versus 37,2 semanas, p = 0,025). Não houve associações significativas entre os grupos e a presença de resultados perinatais adversos. A idade gestacional no diagnóstico foi o único preditor significativo de desfecho composto adverso (x2 [1] = 3,1, p = 0,0001, R2 Nagelkerke = 0,138).
Não houve associação entre manejo ativo e expectante em gestantes com PPROM entre 34 e 36 semanas e 6 dias de gestação e resultados perinatais adversos.
Resumo
. ;:248-254
Avaliar os resultados maternos e perinatais em gestação de mulheres com hipertensão crônica.
Coorte retrospectiva de mulheres hipertensas crônicas acompanhadas em hospital de referência por 5 anos (2012-2017). Foi realizada revisão dos prontuários médicos e os resultados são descritos em médias e frequências. A regressão de Poisson foi usada para identificar os fatores independentemente associados à ocorrência de pré-eclâmpsia superajuntada.
Um total de 385 mulheres foram incluídas no presente estudo, e amaioria tinha idade > 35 anos, era multípara, majoritariamente brancas e obesas antes da gravidez. Um terço teve pré-eclâmpsia em gestação anterior, e 17% apresentavam lesão de órgão-alvo associada à hipertensão, majoritariamente disfunção renal. Um total de 85% das pacientes usaram ácido acetilsalicílico e carbonato de cálcio para a profilaxia de pré-eclâmpsia, sendo que a frequência de pré-eclâmpsia superajuntada foi de 40%, com um início prematuro (32.98 ± 6.14 semanas). Destas, 40% apresentaram sinais de gravidade associados à pré-eclâmpsia, com 5 casos de síndrome HELLP; entretanto sem nenhum caso de eclampsia ou morte materna. A incidência de cesárea foi alta, comidade gestacional de 36 semanas ao parto, e umterço dos recém-nascidos tiveram complicações ao nascimento. Um terço das mulheres permaneceu usando medicamentos anti-hipertensivos ao fim da gravidez.
A hipertensão crônica se relaciona comalta prevalência de pré-eclâmpsia, cesárea, prematuridade e complicações neonatais. Vigilância e cuidado multidisciplinar são importantes para o diagnóstico precoce das complicações.
Resumo
. ;:74-80
Avaliar o impacto da presença de critérios de morbidade materna grave e potencial evento adverso materno associados a distúrbios hipertensivos nos desfechos maternos e perinatais em uma maternidade escola.
Trata-se de uma subanálise de um estudo maior, envolvendo 27 centros, que estimou a prevalência de morbidade materna grave e potencial evento adverso no Brasil. Realizou-se um estudo analítico e transversal, com abordagem quantitativa, envolvendo 928 mulheres atendidas na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (MEAC), na Universidade Federal do Ceará (UFC), no período de julho de 2009 a junho de 2010, diagnosticadas com potencial evento adverso de acordo com os critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS). A amostra foi dividida em dois grupos: pacientes com (n = 827) e sem hipertensão (n = 101). Os resultados foram considerados estatisticamente significativos quando p < 0,05. O teste do Qui-quadrado de Pearson e o teste exato de Fisher foram usados para as variáveis categóricas, e o teste U de Mann-Whitney, para as variáveis contínuas.
Foram identificados 51 participantes com critérios de potencial evento adverso materno, sendo 36 mulheres com distúrbios hipertensivos. Destas, 5 morreram e foram obviamente excluídas do grupo final do potencial evento adverso. Foram observados 867 casos com critérios de morbidade materna que não caracterizavam potencial evento adverso. Nesse período, houve 4.617 nascidos vivos (NVs) na instituição estudada.
Na população com morbidade grave/potencial evento adversomaterno, a presença de complicações hipertensivas é prevalente, constituindo fator de risco para o binômio materno-fetal.
Resumo
. ;:61-64
O parto pré-termo espontâneo complica frequentemente as gestações multifetais, condicionando elevada morbimortalidade perinatal. Em determinados casos, o nascimento prematuro do primeiro feto pode não requerer o nascimento do(s) feto(s) restante(s), que podem permanecer in utero, com o objetivo de diminuir a morbidade e mortalidade neonatal. Atualmente, não existe consenso quanto à melhor atitude clínica nas situações de parto diferido. Descrevemos um caso de parto diferido de gravidez bicoriônica vigiado no nosso centro. Neste caso, a realização de cerclagem, a terapêutica tocolítica e a administração de antibioticoterapia de largo espectro permitiu o parto às 37 semanas do segundo gêmeo, o que corresponde a 154 dias de latência, que, segundo o nosso conhecimento, é o intervalo de diferimento mais longo descrito na literatura. A tentativa de diferir o parto do segundo feto na periviabilidade é uma opção que deve ser oferecida aos progenitores, após aconselhamento e desde que se cumpram os critérios clínicos de elegibilidade. A seleção correta das candidatas, em conjunto com a realização de corretos procedimentos, monitorização fetal e materna e identificação precoce de complicações aumentam a possibilidade de sucesso deste tipo de parto.
Resumo
. ;:554-562
A gestação gemelar é responsável por 2 a 4% do total de nascimentos, com uma prevalência variando de 0,9 a 2,4% no Brasil. Ela é associada a piores resultados maternos e perinatais. Muitas condições, como amorbidade materna grave (condições potencialmente ameaçadoras da vida e near-miss materno) e near-miss neonatal ainda não foram investigadas de forma apropriada na literatura. A dificuldade na determinação de condições associadas com a gestação gemelar provavelmente reside em sua ocorrência relativamente baixa e na necessidade de estudos populacionais maiores. O uso da população total e de bancos de dados de grandes estudosmulticêntricos podem então fornecer resultados sem precedentes. Considerando que esta é uma condição rara, ela émais facilmente avaliada usando estatísticas vitais de registros eletrônicos de