Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2015;37(9):411-416
DOI 10.1590/SO100-720320150005397
Avaliar os níveis séricos da sintetase nítrica induzível (INOS), da mieloperoxidase (MPO), do estado antioxidante total (EAT) e do estado oxidante total (EOT) em mulheres portadoras de insuficiência ovariana primária (IOP) e compará-las às mulheres férteis. Também examinamos os possíveis fatores de risco associados à IOP.
Trata-se de estudo transversal caso-controle desenvolvido no Zekai Tahir Burak Women's Health Education and Research Hospital. A população de estudo abrangeu 44 mulheres portadoras de IOP (grupo de estudo) e 36 mulheres férteis hígidas (grupo controle). Em todas as pacientes, foram determinados os níveis séricos de INOS, MPO, EAT e EOT.Os níveis de INOS e MPO foram determinados com o uso do teste ELISA e os níveis de EAT e EOT foram determinados mediante método colorimétrico. Analisou-se também a idade, o índice de massa corporal (IMC), os antecedentes obstétricos, tabagismo, histórico familiar, comorbidades, achados sonográficos, valores completos do hemograma, proteína C-reativa e níveis hormonais basais. O teste t de Student ou o teste U de Mann-Whitney foi utilizado para comparar as variáveis contínuas entre os grupos; os dados categóricos foram avaliados pelo teste do χ2 de Pearson ou o teste exato de Fisher, conforme o caso. O método de regressão logística binária foi utilizado para identificar os fatores de risco para IOP.
Encontramos níveis significativamente elevados de INOS (234,1±749,5 versus133,8±143,0; p=0,005), MPO (3.438,7±1.228,6 versus 2.481,9±1.230,1; p=0,001) e EOT (4,3±1,4 versus 3,6±1,4; p=0,02) nos soros do grupo estudo em relação ao grupo controle pareado por IMC e idade. Entretanto, as diferenças entre os níveis séricos de EAT nos dois grupos não foram significantes (1,7±0,2 versus 1,6±0,2; p=0,15). O método de regressão logística demonstrou que IMC <25 kg/m2, nuliparidade, histórico familiar de IOP, tabagismo e níveis séricos elevados de INOS, MPO e EOT foram fatores de risco independentes para IOP.
Foram encontrados níveis aumentados de INOS, MPO e EOT em mulheres portadoras de IOP. Estes marcadores séricos podem ser promissores para o diagnóstico precoce de IOP. Novos estudos em larga escala são necessários para determinar se os marcadores de estresse oxidativo desempenham um papel no diagnóstico da IOP.
Resumo
. ;:272-277
DOI 10.1590/SO100-720320150005301
Avaliar a resposta ovariana após uso de ciclofosfamida (CFM) em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) e correlacionar os achados de tempo de doença e idade no período de utilização de CFM e dose cumulativa com alterações no ciclo menstrual e/ou evolução para insuficiência ovariana (IO).
Foi um estudo transversal, retrospectivo, com 50 pacientes com diagnóstico de LES e que fizeram tratamento com CFM com seguimento clínico de, pelo menos, 1 ano. Foram incluídas pacientes com idade entre 12 e 40 anos e que apresentavam ciclos menstruais regulares prévios ao tratamento. Foram excluídas pacientes que descontinuaram o seguimento, ou este foi menor do que um ano, além daquelas que apresentaram irregularidade/ausência menstrual antes do uso do fármaco. Todas as mulheres estudadas foram submetidas à entrevista e à aplicação de questionário. Neste foram abordadas questões relevantes de padrão de ciclo menstrual antes e posterior à terapia, assim como períodos gestacionais e método contraceptivo. Foi questionado se as pacientes foram orientadas sobre os efeitos colaterais e as consequências da CFM. Para análise estatística, foram utilizados os testes t de Student, Mann-Whitney, do χ2 e o não paramétrico de Kolmogorov-Smirnov.
A média de idade das pacientes incluídas no do estudo foi de 30,8 anos, e a média de idade no momento do uso de CFM, de 25,3 anos. Após a CFM, 24% das pacientes não menstruaram mais, 28% voltaram a ter ciclos regulares e 48% delas permaneceram com ciclos irregulares. Verificou-se que as pacientes que evoluíram com falência ovariana tinham maior tempo de doença (12,3 anos) do que aquelas que não evoluíram (8,9 anos). Treze pacientes tiveram gestação após a CFM, em todas ocorreu de forma espontânea; no entanto, 66% evoluíram com abortamento. A média de idade das pacientes que fizeram uso de CFM e evoluíram com falência ovariana foi de 28,1 anos. A amenorreia ocorreu em 50% das pacientes que tinham idade entre 31 e 40 anos, 22,2%, entre 21 e 30 anos, e 7,7%, entre 12 e 20 anos. Nosso estudo não mostrou correlação estatística entre dose cumulativa e falência ovariana, apesar de que doses cumulativas maiores que 11 g tendem a promover algum tipo de irregularidade menstrual.
O tempo de doença do LES, a idade no momento do tratamento e as maiores doses cumulativas são importantes fatores preditores da IO pós-terapia com CFM. Gestação em pacientes lúpicas após o uso do quimioterápico tem maiores chances de evoluir com abortamento. Viu-se que pequena parte das doentes estava ciente de todas as repercussões que a droga poderia gerar. Por isso, novos estudos devem ser realizados para o conhecimento e a conscientização, por parte do meio médico, sobre a importância da anticoncepção e da preservação do tecido ovariano.