Resumo
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Avaliar a possível relação entre estado clínico na apresentação e distância percorrida a partir do distrito de saúde em mulheres com doença trofoblástica gestacional.
Estudo transversal incluindo mulheres com doença trofoblástica gestacional dos 17 distritos de saúde do estado de São Paulo (I–XVII), Brasil, encaminhadas ao Centro de Doenças Trofoblásticas de Botucatu (distrito VI), entre 1990 e 2018. Na admissão, avaliaram-se mola hidatiforme pelo sistema de pontuação de risco de Berkowitz et al. e neoplasia trofoblástica gestacional pelo escore de risco/estadiamento Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia / Organização Mundial da Saúde (FIGO/OMS). Coletaram-se dados demográficos, clínicos e distância percorrida e análises de regressão múltipla foram realizadas.
Este estudo incluiu 366 mulheres (335 mola hidatiforme, 31 neoplasia trofoblástica gestacional). O estado clínico na apresentação e distância percorrida diferiram significativamente entre o centro especializado e demais distritos. Nas pacientes encaminhadas pelos distritos IX (β = 2,38 [0,87–3,88], p = 0,002) e XVI (β = 0,78 [0,02–1,55], p = 0,045), os escores de mola hidatiforme foram maiores que no centro especializado. As pacientes com neoplasia trofoblástica gestacional do distrito XVI apresentaram escores FIGO 3,32 vezes maior que no centro especializado (β = 3,32, 95% CI = 0,78–5,87, p = 0,010). A distância percorrida pelas pacientes dos distritos IX (200km) e XVI (203,5km) foi significativamente maior do que a percorrida pelas pacientes do centro especializado (76km).
Pacientes de distritos de saúde fora da cobertura do centro especializado apresentaram escores de risco mais alto para mola hidatiforme e para neoplasia trofoblástica gestacional na admissão. Longas distâncias (>80 km) pareceram influenciar negativamente o estado clínico da doença trofoblástica gestacional na apresentação, indicando barreiras no acesso a centros especializados.