Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 30/07/2021;43(5):384-394
A Coronavirus disease 2019 (COVID-19) é uma doença causada por um coronavírus recém descoberto, o severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARSCoV-2), que geralmente leva a sintomas respiratórios não específicos. Embora mulheres grávidas sejam consideradas em risco de infecções respiratórias por outros vírus, como SARS e Middle East respiratory syndrome (MERS), pouco se sabe sobre sua vulnerabilidade ao SARS-CoV-2. Portanto, este estudo tem como objetivo identificar e apresentar os principais estudos sobre o tema incluindo o período pós-parto.
Nesta revisão narrativa, foram pesquisados artigos em diversas bases de dados, organizações e entidades de saúde, utilizando palavras-chave compatíveis com o MeSH, tais como: COVID-19, gravidez, transmissão vertical, coronavírus 2019, e SARSCoV-2.
A revisão da literatura científica sobre o assunto revelou que as gestantes com COVID-19 não apresentaram manifestações clínicas significativamente diferentes das não gestantes, porém existem terapias contraindicadas. Em relação aos fetos, foramidentificados estudos que relataram que a infecção por SARS-CoV-2 em mulheres grávidas pode causar sofrimento fetal, dificuldades respiratórias e parto prematuro, mas não há evidências substanciais de transmissão vertical.
Devido à falta de informações adequadas e às limitações dos estudos analisados, é necessário fornecer dados clínicos detalhados sobre as gestantes infectadas pelo SARS-CoV-2 e sobre as repercussões materno-fetais causadas por esta infecção. Assim, esta revisão pode contribuir para ampliar o conhecimento dos profissionais que atuam na área, bem como para orientar estudos mais avançados sobre o risco relacionado à gestante e seu recém-nascido. Enquanto isso, o monitoramento de gestantes confirmadas ou suspeitas com COVID-19 é essencial, incluindo o pós-parto.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 21/12/2020;42(10):659-668
Identificar quais são as condutas recomendadas para a prevenção de pré-eclâmpsia em gestantes.
Foi feita uma revisão sistemática da literatura, e foram desenvolvidas estratégias detalhadas de busca individual nas bases de dados PubMed/MEDLINE, CINAHL, Web of Science, Cochrane e LILACS pela Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Uma pesquisa manual também foi realizada para encontrar referências adicionais. O risco de viés, a qualidade da evidência, e a classificação da força das recomendações foram avaliadas usando a abordagem Classificação de Recomendações, Avaliação, Desenvolvimento e Análises (Gradings of Recommendations, Assessment, Development and Evaluations, GRADE).
No total, foram encontrados 351 artigos na busca inicial nas bases de dados consultadas e 2 na busca manual; após exclusões por duplicidade, 333 artigos permaneceram. Após a leitura de títulos e resumos, 315 referências foram excluídas. Portanto, 18 artigos foram mantidos para a seleção do texto completo (fase 2); esse processo levou à exclusão de 6 artigos. Após as exclusões por incompatibilidade com os critérios de inclusão, 12 artigos compuseram a amostra.
Os artigos selecionados para o estudo foram analisados, e a digitação da síntese das evidências foi realizada no software online GRADEpro Guideline Development Tool (GDT) (McMaster University and Evidence Prime Inc. Todos os direitos reservados. McMaster University, Hamilton, Ontário, Canadá), o que possibilitou a elaboração de uma tabela de evidências, com a qualidade das evidências e a classificação da força das recomendações.
No total, sete estudos recomendaram o uso individual de aspirina, ou aspirina combinada com cálcio, heparina ou dipiridamol. O uso de cálcio isolado ou em combinação com fitonutrientes também foi destacado. Todos os estudos foram realizados com mulheres com alto risco de desenvolver pré-eclâmpsia.
De acordo com os estudos avaliados, a administração de aspirina ainda é a melhor conduta a ser utilizada na prática clínica para prevenir a pré-eclâmpsia.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 21/12/2020;42(10):669-671
O presente relato descreve o caso de uma gestante de 31 anos, gemelar dicoriônica com 31 semanas, com queixa de mialgia, icterícia e desconforto abdominal. A paciente não apresentava sintomas gripais como febre ou tosse e não tinha conhecimento de exposição ao COVID-19. Pressão arterial e saturação de oxigênio normais. Os exames laboratoriais apresentaram contagem de plaquetas de 218,000 mm3, ALT 558 IU e creatinina 2.3 mg/dl. Doppler compatível com centralização de um dos fetos. Síndrome de hemolysis, elevated liver enzymes, low platelet count (HELLP) parcial foi a hipótese diagnóstica inicial e a cesariana foi realizada. No segundo dia, a paciente apresentou leucócitos de 33.730 com queda do nível de consciência e desconforto respiratório leve. A tomografia revelou opacidade pulmonar em vidro fosco bilateralmente. A pesquisa de COVID-19 por polymerase chain reaction (PCR)/swab teve resultado positivo. Trombocitopenia em pacientes com COVID-19 é multifatorial, semelhante ao que ocorre na pré-eclâmpsia e na síndrome HELLP. Acreditamos que o sinergismo da fisiopatologia das doenças em questão pode acelerar o comprometimento materno e deve servir de alerta para a prática obstétrica.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 19/06/2019;41(4):230-235
Avaliar os desfechos maternos e perinatais de gestações em mulheres portadoras de fibrose cística (FC) e disfunção pulmonar grave.
Série de casos visando a avaliação dos desfechos maternos e perinatais em gestações únicas de mulheres com diagnóstico de FC. Foram incluídos todos os casos de gestações únicas de pacientes comFC que tiveramacompanhamento no departamento de obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no período de 2003 a 2016. Os critérios de exclusão foramnão disponibilidade do prontuário da paciente e parto em outro serviço. Disfunção pulmonar grave foi definida como presença de volume expiratório forçado em1 segundo < 50%. Foramanalisados tambémos dados referentes a exacerbações respiratórias e internações maternas.
Gestação em mulheres portadoras de FC com disfunção pulmonar grave não se associaramcomprematuridade espontânea, restrição de crescimento fetal ou óbito fetal. Todos os casos apresentarammúltiplos episódios de exacerbações respiratórias necessitando de antibioticoterapia. A mediana de eventos por pacientes (intervalo) foi de 4 (2-4) eventos.
Mulheres portadoras de FC com disfunção pulmonar grave podem evoluir com gestações de termo bem sucedidas. Entretanto, gestações nestas pacientes são frequentemente complicadas por exacerbações respiratórias, necessitando de internação. Gestantes portadoras de FC devem ser acompanhadas por uma equipe especializada com experiência no manejo de doenças respiratórias.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 13/03/2019;41(3):199-202
Angiomiolipomas (AMLs) são tumores benignos raros derivados do tecido mesenquimal, compostos em graus variados de tecido adiposo, muscular e de vasos sanguíneos. Os AMLs renais (AMLRs) resultam de um evento esporádico e, na maioria dos casos, o diagnóstico costuma ser fortuito, mas quadros de hemorragia e choque podem estar presentes. Durante a gestação, os AMLs podem aumentar de tamanho e romper, provavelmente pela altaexpressãodereceptoreshormonais,epeloaumentodacirculaçãomaternaedapressão abdominal. Os autores apresentam um caso de uma paciente com AMLR roto submetida a tratamento endovascular de urgência no quarto dia pós-operatório de uma cesariana.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 01/06/2018;40(6):372-376
O parvovírus B19 tem tropismo para as células sanguíneas da linha vermelha, causando hidropsia imune durante a gravidez. O teste Coombs anti-Kell positivo ocorre durante a gravidez quando há produção de anticorpos contra os antígenos de Kell, mas pode haver reações cruzadas para outros antígenos. Uma grávida primigesta de etnia cigana, de 24 anos, 0 Rhesus positivo, recorreu ao hospital às 19 semanas de gestação por hipertermia isolada persistente por 2 semanas e umteste Coombs indireto positivo por anticorpos anti-Kell em testes de rotina da gravidez. O estudo analítico revelou bicitopenia com anemia ferropênica, leucopenia com neutropenia, e elevação da proteína C-reativa. A paciente foi medicada com imipenem, e teve uma recuperação clínica lenta. Foram colhidas amostras de sangue, urina e expectoração para culturas bacterianas. Na urina, foi isolada Escherichia coli, o que provavelmente causou a reação anti-Kell cruzada transitória. Na expectoração, foi isolada Haemophilus influenza, e foi confirmada seroconversão para o parvovírus B19, que causou um déficit incomum na linhagem sanguínea branca, culminando com neutropenia febril. Apesar da má adesão aos cuidados médicos, os desfechos materno e fetal/neonatal foram bons. Este é um caso de 2 fenômenos raros, uma reação cruzada anti-Kell à infecção por E. coli, e parvovírus B19 comtropismo para células brancas causando neutropenia febril, ambos ocorrendo simultaneamente durante a gravidez.