Resumo
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Considerando os problemas físicos, mentais e comportamentais relacionados à exposição fetal ao álcool, as orientações clínicas pré-natais sugerem uma breve avaliação do consumo de álcool durante a gravidez para detectar o consumo de álcool e ajustar as intervenções, se necessário. Ainda que qualquer uso de álcool deva ser considerado arriscado durante a gravidez, identificar as mulheres com transtornos de uso de álcool é importante, porque elas podem precisar de uma intervenção mais específica do que um simples conselho para se abster. A maioria dos testes de triagem tem sido desenvolvidos e validados em populações masculinas, e estão focados nas consequências em longo prazo do uso excessivo de álcool, de modo que eles podem ser inadequados para avaliar o consumo em mulheres grávidas.
Analisar a confiabilidade e a validade internas dos instrumentos de triagem de álcool Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT), Alcohol Use Disorders Identification Test - Consumption (AUDIT-C), Tolerance, Worried, Eye-Opener, Amnesia and Cut-Down (TWEAK), Rapid Alcohol Problems Screen - Quantity Frequency (RAPS-QF) e Tolerance, Annoyed, Cut-Down and Eye-Opener (T-ACE) para identificar transtornos por uso de álcool em mulheres grávidas.
Um total de 641 puérperas foram entrevistadas pessoalmente durante as 48 horas após o parto. As curvas receiver operating characteristic (ROC), a sensibilidade e a especificidadede cada instrumento foramanalisadas utilizandodiferentespontosde corte. Resultados Todos os instrumentos mostraram áreas sob as curvas ROC acima de 0.80. Foram encontradas áreas maiores para o TWEAK e para o AUDIT. O TWEAK, o TACE e o AUDIT-C apresentaram maior sensibilidade, enquanto o AUDIT e o RAPS-QF apresentaram maior especificidade. A confiabilidade (consistência interna) foi baixa para todos os instrumentos, melhorando quando foram utilizados pontos de corte ótimos, especialmente para o AUDIT, o AUDIT-C e o RAPS-QF.
em outros contextos culturais, estudos concluíram que o T-ACE e o TWEAK são os melhores instrumentos para avaliar mulheres grávidas. Em contrapartida, nossos resultados evidenciaram baixa confiabilidade desses instrumentos e melhor desempenho do AUDIT nessa população.
Resumo
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2012;34(7):296-303
DOI 10.1590/S0100-72032012000700002
OBJETIVO: Verificar em puérperas internadas em um hospital universitário da região Sudeste do Brasil o padrão de consumo alcoólico antes e durante a gravidez, e fatores de risco associados a esse uso. MÉTODOS: Foram incluídas, consecutivamente, 493 puérperas entre junho e setembro de 2009. Foram excluídas puérperas com deficiência cognitiva. Para diagnosticar uso/abuso do álcool antes da gestação foram utilizados os questionários AUDIT e CAGE e, para o consumo durante a gravidez, também o T-ACE. Outro questionário foi aplicado para coleta de dados sociodemográficos, tais como, idade, escolaridade, situação conjugal e renda familiar. Para análise estatística foi utilizado o teste do χ² e calculou-se Odds Ratio (OR) e intervalo de confiança de 95% (IC95%). Valor p<0,05 foi considerado significante. RESULTADOS: Antes da gravidez, o CAGE foi positivo para 50/405 mulheres (12,3%) e o AUDIT identificou consumo alcoólico em 331 (67,1%), sendo de baixo risco em 233 (47,3%), de risco em 73 (14,8%) e nocivo ou provável dependência em 25 (5%). Durante a gravidez, o CAGE foi positivo para 53/405 gestantes (13,1%), o T-ACE em 84 (17%) e o AUDIT identificou uso do álcool por 114, sendo de baixo risco em 73 (14,8%), de risco em 27 (5,5%) e nocivo ou provável dependência em 14 (2,8%). O consumo de álcool foi mais frequente entre gestantes com menor escolaridade (8,8 versus 3,3%) (OR=2,8; IC95% 1,2 - 6,2) e mais frequente entre as que não coabitavam com companheiro (6 versus 1,7%) (OR=3,8; IC95% 1,3 - 11,1). Entre as gestantes que beberam, 49/114 (43%) foram aconselhadas abstinência. CONCLUSÕES: Verificou-se preocupante consumo alcoólico durante a gestação, principalmente entre as gestantes com menor escolaridade ou que não conviviam com companheiro. Houve baixa frequência de aconselhamento visando abstinência e o AUDIT foi o instrumento que mais frequentemente diagnosticou o uso do álcool.